A Barca do Inferno
Notícias do desespero. Até tu, Caronte, para me transportares nesta barca me exigiste uma moeda. Triste mundo este que se entrega à luxúria do vil metal...
sábado, 30 de junho de 2012
quinta-feira, 19 de janeiro de 2012
saudosismo português
se esperássemos a esperança
vinda deste maravilhoso sol afagador
e deste céu de imenso azul aconchegante,
acreditava...
mas, acreditar que ela vem
numa manhã de cerrado nevoeiro
nas quais o carregado azul do mar
despeja na pesada areia da praia:
despojos, náufragos, correntes, grilhetas, algemas...
não creio.
Júlio Silva
sexta-feira, 16 de dezembro de 2011
ansiedade
como enfrentar esta ansiedade?
este nó, aflito, intestinal?
esta depressão habitual?
Filhas da solidão, de viver por caridade...
este nó, aflito, intestinal?
esta depressão habitual?
Filhas da solidão, de viver por caridade...
Júlio Silva
sexta-feira, 2 de dezembro de 2011
o barco navegando pelos olhos de minha mãe
não sei bem, perdi na arca da memória...
mas andaria pelos 3, 4anos.
estava hospitalizado afetado por uma encefalite aguda.
todos os dias e todas as noites só. completamente só.
só as enfermeiras e, de quando em vez, o médico que prometia sempre que no dia seguinte me deixaria regressar a casa.
por vezes, à noite enquanto fingia dormir e enganava assim o cansaço, ouvia chegar as enfermeiras, alegres e felizes, voltando ao hospital de uma noite bem passada, talvez com os namorados. quem sabe lá?
uma tarde, porém, senti um pressentimento e rapidamente me voltei na direção da janela. lá estava, brilhante, mas sem tempo de disfarçar o choro em sorriso, o rosto de minha mãe.
levantei-me a gritar: "-leva-me daqui!".
mas ao chegar à janela já não a vi. apenas um ligeiro aceno de adeus e os lábios desenhando um beijo no frio vidro pelo qual passei a mão incansável, até que uma enfermeira, talvez alertada pela gritaria me pegou, com mais carinho que força, e levou de novo para a cama.
naquele dia, morri.
afogado no mar maré cheia que ondulava nos olhos de minha mãe.
Júlio Silva
quinta-feira, 24 de novembro de 2011
da condição humana
Coloquem qualquer bardamerda em lugar de chefia, pode ser como chefe da merda, e assistirão ao admirável esforço de ele querer obrigar a merda a fazer as coisas mais incríveis...
Júlio Silva
terça-feira, 22 de novembro de 2011
quinta-feira, 17 de novembro de 2011
Desespero.2 e tal
Graça Morais - homem peixe III
Ida ao hospital. Santo António dos Capuchos. Consulta de oftalmologia. 4ª feira, cerca das 8:45 horas. Sala cheia. As pessoas estendem-se pelo corredor. no qual, as cadeiras existentes estão todas ocupadas. Escolho uma parede e encolho-me. Sem querer, oiço as conversas dos outros. Dois homens, conhecidos cá de fora, ou das idas às consultas, ainda sonham com o jogo de véspera da seleção nacional de futebol.
"- E o jogo de ontem? Que espetáculo!" "- não fosse o árbitro e tinham sido 7-1. O Ronaldo é um grande jogador. O melhor do mundo, se calhar." "- Ele e o Nani..." "- Sim, esse também. E o Fábio. Eles todos. Ali só há primeira água. Não há ali lixo." "- O Paulo Bento limpou o lixo todo. E é um grande treinador!" "- Sim. O gajo é bestial!" Até passar a besta, penso eu. Viro a atenção para a conversa entre três senhoras idosas que ocupam, lado a lado, desconfortavelmente, as cadeiras.
"- Como é que isto não há-de estar assim? Com estes políticos a roubarem como roubaram durante estes anos todos!..." "- Os políticos e não só. Lá em Torres, muitos pequenos que eu conheço, fazem vidas de grandes! Onde vão eles buscar o dinheiro?" A terceira, com ar de pessoa mais humilde e também mais idosa, retorquiu: "- Ai filhas! Para fezes já chegam as minhas..."
O altifalante anunciou o meu nome e exigiu a minha presença no gabinete 7.
Lá fui para mais uma compressão que terminará com o meu dia em depressão.
Júlio Silva
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